GEOLOGIA DO ALGARVE GANHA NOTORIEDADE ENTRE A POPULAÇÃO

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Depois de Loulé e Salir, a exposição "Vamos ser Geoparque Algarvensis: o que é isso?”, rumou a Albufeira para ficar patente em três locais (Paderne, Ferreiras e Albufeira) até 3 de março. O acolhimento da exposição foi em festa e a população não faltou, bem como os representantes dos municípios envolvidos na candidatura à rede global de geoparques da UNESCO, a qual foi já aceite como aspirante pela Comissão Nacional da UNESCO.

Aceite que foi pela Comissão Nacional da UNESCO enquanto aspirante e observador no Fórum Português de Geoparques, decorre agora o período de sensibilização das populações para a importância do património geológico que possuem e, caso o Geoparque Algarvensis venha a obter a chancela da UNESCO – e disso, nenhum interveniente duvida – a região terá novas oportunidades de desenvolvimento e os seus parceiros (associações, empresas, agentes culturais e outros), um selo de qualidade daquele organismo internacional.

Os autarcas de Loulé, Silves e Albufeira vêm neste futuro Geoparque um argumento válido que lhes permitirá "alavancar" projetos com vista ao desenvolvimento do interior dos seus municípios, onde organismos governamentais e instrumentos de ordenamento diversos, como REN, Rede Natura, RAN, PDM's e outros, colocam variados impedimentos à renovação do tecido social, cultural e económico, especialmente nas áreas do Barrocal e Serra.

Obter o selo de "Geoparque Mundial da UNESCO" será um coadjuvante dos pareceres das autarquias na defesa dos seus territórios e dos projetos que venham a nascer tendentes a rejuvenescer e potenciar o interior, desde que esses investimentos não sejam invasivos do meio ambiente e das marcas culturais da população. A abertura desta exposição em Paderne, no passado dia 8 de fevereiro, traduziu-se num dia cheio de expectativa e satisfação. Os convidados rumaram em cortejo desde o Monumento ao Músico até ao edifício da Junta de Freguesia, contando com a presença do Agrupamento 1009 dos escuteiros de Paderne, bem como da Banda Musical e Recreio Popular de Paderne que à frente do cordão humano de cerca de 200 pessoas a todos surpreendeu, não só pela escolha dos temas, como pelo rigor de interpretação, sob a orientação de novo maestro.

Os munícipes deram resposta ao desafio, compareceram e ficaram a saber que em breve os especialistas da UNESCO poderão visitar a Aldeia para perguntar aleatoriamente se sabem o que é um geoparque.  "Eu sou Geoparque Algarvensis" é uma boa resposta para começar. Patente no edifício da Junta de Freguesia de Paderne, a exposição itinerante acompanha-se de uma outra mostra, mais pequena, específica de Albufeira que testemunha o mar tropical do tempo dos dinossauros. É que se em Loulé, toda a Rocha da Pena e seus fósseis únicos, como o caso do Metopossauros, e se em Silves a rica existência do grés, constituem motivos evidentes para serem geossítios de destaque, em Albufeira, o "tesouro" geológico são os calcários do Escarpão, datados do Jurássico superior, conforme se comprova pela abundância de fósseis de corais e bivalves. Na altura, a coordenadora científica do Geoparque Algarvensis, Cristina Veiga-Pires, fez a apresentação da exposição e esclareceu o que é um geoparque e a sua importância para a sustentabilidade das comunidades locais.

No sentido de observar no terreno a evolução dos ambientes ao longo do tempo geológico, Albufeira preparou um visita de estudo ao longo de uma manhã no Planalto do Escarpão aos futuros geossítios em jipes todo o terreno, depois de um dejejum à antiga no Centro Educativo do Cerro do Ouro, onde não faltou o café de borra, a bebida da velha "Farinha 33", fatias douradas e biscoitos de amêndoa, bem como o sumo de laranja espremido à mão pelas educadoras do Centro, onde os mais sábios da Aldeia transmitem no dia a dia o “saber fazer” dos tempos idos, da gastronomia ao artesanato.

Depois foi rodar até chegar ao ponto mais elevado do planalto, de ar puro, zunidos de insetos e flores silvestres, ficando o grupo de pés assentes em rochas formadas no oceano do Jurássico, há 145 milhões de anos, quando a água era bem mais quente que a do oceano atual no Algarve. Delminda Moura, do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Algarve explicou a formação do solo típico das zonas calcárias de clima mediterrânico, que, devido à sua cor tipicamente vermelha, se designa por terra rossa. Este solo, apesar de não ser rico em nutriente nem em água, pode ser vocacionado para culturas especiais. A par da geologia, também Manuela Santos, do Município de Albufeira, esclareceu sobre as especificidades da flora, fauna e microfauna existentes nos valados resultantes da despedrega a fim de tornar o terreno arável. Após a observação de fósseis, sumidouros, olheiros de água, flores e bagas à mistura, outra das paragens foi na ponte medieval, onde o arqueólogo afeto ao Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira, Luís Campos Paulo, explicou, entre outras, que o castelo de Paderne foi construído em Taipa, apesar da abundância de pedra à volta, por motivos de facilidade e de rapidez na sua construção, atendendo aos ataques constantes e inesperados dos cristãos àquele forte árabe.

Depois de um almoço onde o destaque foram os produtos locais confecionados à moda do Barrocal, seguiu-se a inauguração da exposição em ambiente de festa tradicional: Banda a tocar, famílias inteiras, escuteiros e cortejo pela Rua Miguel Bombarda acima, com quase 200 pessoas que atentamente ouviram os discursos dos três presidentes de Câmara, do presidente da Junta de Freguesia de Paderne e da coordenadora científica da candidatura.

O momento seguinte foi na Sala D. Paio Peres Correia, da Caixa de Crédito Agrícola da freguesia. Foram muitos os interessados, nomeadamente jovens que podem ter neste geoparque uma possibilidade de investimento. Para ouvir, dois parceiros de sucesso do Geoparque de Arouca: Paula Brito, gestora de hotel e Luis Teles, co-fundador de uma empresa de atividades radicais com recurso ao rio Paiva e às escarpas existentes.

Por fim, José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, afirmou que se trata de “um processo moroso, a agenda da UNESCO é complexa, mas o aspirante a Geoparque permite-nos desde já salientar o que é a nossa geologia. O território do Barrocal precisa de rejuvenescimento e esperamos que a classificação da UNESCO seja uma realidade para melhorarmos as condições de vida das pessoas e da economia das aldeias”. Convicto da futura realidade, Vitor Aleixo, autarca de Loulé, salientou que “Daqui a três ou quatro anos vamos ter aqui um geoparque mundial com a chancela da UNESCO, mas tal não será possível sem o envolvimento das pessoas. Temos já muitas coisas a funcionar, que vão ter que ser reorganizadas e potenciadas à luz da chancela da UNESCO”. Rosa Palma, presidente do Município de Silves, empregou uma imagem:” queremos que as rochas comecem a falar”, mas alertou que não apenas a geologia. “Isto não é trabalho para um mandato, aqui não acenamos nenhuma bandeira política; queremos o desenvolvimento dos espaços das pessoas, para as pessoas.” Por seu turno, o Presidente da Junta de Freguesia de Paderne mostrou-se muito confiante neste projeto para o desenvolvimento da Freguesia e vai propor desde já a criação de um “Jardim Mediterrânico” nos arredores do Castelo, a fim de preservar e valorizar a flora autóctone. Houve ainda tempo para um alerta por parte de Cristina Veiga-Pires: “não é tudo verde e azul e temos que educar as pessoas para as coisas menos boas; não se pode lançar lixo e tem que se preservar o que é comum. Este trabalho conta com a dedicação, neste momento, de 30 pessoas, mas não a tempo inteiro e há muito ainda a fazer”. Depois de Paderne, a exposição está agora em Ferreiras até ao próximo dia 21 e, nos Paços do Concelho, estará de 22 de fevereiro a 3 de março. De seguida, irá para a o concelho de Silves.

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Data de Publicação: 

2020/02/19