Já saiu ao público o livro “Uma História com Muitos Milhões de Anos – Do oceano Thetys ao barrocal do Algarve”, que numa linguagem acessível conta a história geológica do Planalto do Escarpão, situado no concelho de Albufeira, entre Paderne e Ferreiras. Este planalto já foi o grande oceano Thetys e os fósseis contam uma história do território com mais de 150 milhões de anos. Uma verdadeira “joia da Geologia”, “revelada” numa edição conjunta do Município de Albufeira com o aspirante Geoparque (Algarvensis aUGGp – aspiring UNESCO Global Geopark). A edição em formato digital já está acessível, de modo gratuito.
Foi ao final da tarde de 6 de outubro, dia em que ao longo de muitos anos as aulas arrancavam em Portugal, que nasceu o livro “Uma História com Muitos Milhões de Anos – Do oceano Thetys ao barrocal do Algarve”, decorrente de investigações levadas a cabo pela geóloga Delminda Moura, da Universidade do Algarve, coadjuvada pela investigadora Sónia Oliveira. O convite partiu do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, com o compromisso de Cristina Veiga-Pires, diretora científica do Algarvensis – Loulé, Silves, Albufeira, aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO, e de Luís Pereira, coordenador no Município de Albufeira responsável pela candidatura do Algarvensis à UNESCO. O prefácio da obra é assinado por Nuno Pimentel, geólogo e coordenador científico do aspirante Geoparque Oeste.
Como tal, o espaço escolhido para o nascimento do livro foi uma sala de aula da antiga Escola do Cerro d’Ouro, em Paderne, que é hoje um Centro Educativo e que recria com objetos e imagens o que era a “escola do antigamente”. Neste dia 6 de outubro celebrou-se também, pela primeira vez, o Dia Internacional da Geodiversidade. Não deixaram de assistir ao nascimento deste livro diversos interessados nomeadamente o Presidente da CCDR Algarve, José Apolinário, a vice-reitora da Universidade do Algarve, Ana de Freitas, e o diretor da APA – Agência Portuguesa do Ambiente/ ARH – Administração da Região Hidrográfica do Algarve, Pedro Coelho, entre outros. Presença de excelência foi a de duas artesãs padernenses, Noémia Domingues e Maria Inês, fazendo “empreita de palma” à moda das avós, que outrora faziam este trabalho por um preço ajustado à “empreitada”, fornecendo recipientes para o transporte e embalamento dos produtos agrícolas. Desde logo foram convidadas por Cristina Veiga-Pires, a reproduzirem alguns dos fósseis dos corais existentes no Planalto. E enquanto entrelaçavam as folhas secas de palmeira anã, à maneira dos antigos serões de inverno, foram ouvindo as histórias que marcaram a vida deste novo livro, que como frisou Delminda Moura, “permite uma visão integrada desde o tempo que tudo isto era o oceano Thetys, ou seja, desde que a Europa era um conjunto de ilhas, até à ação do homem que fez os muros de pedra seca para despedregar o solo para fins agrícolas e, deste modo fazerem a divisão do território”, na construção de valados. Um momento alto na intervenção desta cientista prendeu-se com a recordação das investigações em torno do Planalto do Escarpão, “uma joia da Geologia em Portugal” nos anos 80, altura em os alunos da Universidade de Lisboa se deslocavam ao Algarve para pesquisas, acompanhadas pelos seus mestres, nomeadamente, o célebre Miguel Magalhães Ramalho, Rogério Rocha e António Augusto Ribeiro, entre outros. “Vínhamos ver o oceano fóssil para apresentarmos trabalhos sobre os ecossistemas existentes nesta plataforma de corais, um conjunto imenso de microorganismos, pois este topo, esta dobra resultante da subida das massas de sal, apresenta as últimas formas dos antigos seres continentais, entretanto desaparecidas”.
O presidente da Câmara Municipal, José Carlos Rolo, visivelmente satisfeito com o livro, congratulou os autores e, sem rodeios, afirmou: “queremos o selo da UNESCO neste território”, salientando ainda a tripla resposta que o reconhecimento da UNESCO trará à região, no eixo da ciência, no do geoturismo e no da valorização do território. “É a hora de devolver o poder à Terra”, referiu, terminando a sua intervenção dizendo que ao olharmos o atual planalto calcário do Escarpão vemos nele o passado do mar e sobre este “não encontramos vestígios do seu começo, mas também não temos nenhuma perspetiva do seu fim”, parafraseando James Hutton, considerado por muitos como o pai da geologia moderna.
Luís Pereira justificou a existência desta obra nos seus diversos eixos de pertinência, afirmando que corresponde ao dealbar de um novo ciclo económico dos territórios, uma nova postura perante o espaço geográfico e geológico, sendo que “este livro apresenta a evolução do tempo geológico, desde há 4600 milhões de anos, e os conceitos que se foram formando, apresentando assim uma sequência mais completa daquilo que foi o Jurássico superior. Tudo numa linguagem simples e didática, que permite que qualquer pessoa possa ser cientista”. A intenção é que a nova publicação venha a ser uma presença nas salas de aula e um instrumento de trabalho e de descobertas.
Neste lançamento, a boa hospitalidade do Centro Educativo do Cerro d’Ouro brindou os presentes com diversos doces a partir dos produtos autóctones, pontuando a amêndoa e o figo, a laranja e os chás de ervas, tendo sido oferecido um livro a todos os presentes. Em formato de papel, este livro encontra-se já na Biblioteca Municipal Lídia Jorge e bibliotecas escolares de Albufeira, e em breve também na Universidade do Algarve, Centros de Ciência Viva do Algarve e bibliotecas dos Municípios de Loulé e Silves. Entretanto, é já possível aceder gratuitamente à publicação em suporte digital nos portais:
– Sapientia da Ualg” (https://sapientia.ualg.pt/handle/10400.1/17873;
– site do aspirante Geoparque Algarvensis (https://www.geoparquealgarvensis.pt/aprender-e-sensibilizar/recursos-online)
– e no “Zenodo - comunidade Algarvensis” (https://zenodo.org/record/7186965#.Y0XosexBw-Q)