ENCONTRO “(RE)PENSAR A EDUCAÇÃO” LANÇOU MOTE PARA NOVOS PARADIGMAS EDUCATIVOS

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Dois dias, 250 participantes, 16 oradores, duas conferências, sete oficinas temáticas, duas mesas redondas, oito projetos de dinâmicas educativas e dois momentos musicais. Estes são os números do Encontro “(Re)pensar a Educação- Aprendizagem e Inovação num Mundo em Transição”, que teve lugar no passado fim de semana, em Albufeira.  Participantes de todo o país refletiram e partilharam experiências e saberes com o objetivo comum de fomentar ações educativas transformadoras.

“Vamos repensar, quebrar barreiras, recomeçar, porque a realidade deve ser dinâmica e a educação tem que acompanhar os dias de hoje”. Foi assim que o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa, deu início ao Encontro “(Re)pensar a Educação – Aprendizagem e Inovação num Mundo em Transição”, que decorreu nos dias 3 e 4 de março, no hotel São Rafael Atlântico, em Albufeira.

Durante dois dias, os participantes assistiram a conferências, oficinas temáticas, mesas redondas, mostras de projetos e a alguns momentos musicais a cargo do Conservatório de Albufeira. “Este Encontro foi pensado com o intuito de darmos um pequeno contributo para a reflexão, diálogo e troca de saberes entre todos os intervenientes no processo educativo”, destacou José Carlos Rolo, vice-presidente da Autarquia com o pelouro da Educação.

No primeiro dia teve lugar a conferência “Eu te educo…tu me educas”, onde foram abordados os direitos das crianças pela conselheira independente Ana Guerreiro. A oradora abordou várias questões, desde o analfabetismo à emigração dos jovens, passando pelas estratégias de envolvimento dos alunos na tomada de decisões, e terminando no desenvolvimento de ferramentas de avaliação e melhoria dos direitos das crianças.

A Mesa Redonda lançou o tema “O nosso papel como agentes de mudança na escola de hoje”, que contou com as intervenções de José Pacheco (fundador da Escola da Ponte), de David Rodrigues (presidente da Pró-Inclusão) e foi moderado por Nuno da Silva, educador ativista. “As escolas são pessoas e as pessoas são os seus valores. As escolas não são edifícios, são projetos baseados na autonomia, responsabilidade e na solidariedade para que haja uma educação integral”, defende José Pacheco, mestre em Ciências da Educação da Criança, vencedor de diversos prémios pelo projeto que coordenou na Escola da Ponte, em Santo Tirso, e impulsionador de mais de uma centena de projetos no Brasil para um novo modelo de ensino.

Pelo meio houve uma mostra de oito projetos e um espaço para conversas imprevistas no hall do hotel. Dois desses projectos são de âmbito municipal: o Programa “Eu e os Outros”, do Gabinete de Psicopedagogia, Nutrição e Saúde Escolar, e o outro, os trabalhos de âmbito cultural elaborados pelo Centro Educativo do Cerro do Ouro. O dia terminou com um jantar onde foram apresentados projetos nacionais inovadores através de dinâmicas vivenciais.

No dia seguinte, a manhã contou com sete oficinas temáticas sobre “Mindfulness na educação”, por Cátia Dias (facilitadora da Academia de Parentalidade Consciente), “Comunicação autêntica”, por Allan Sousa (Projeto Oxigénio), “Escola Aberta”, por José Pacheco (fundador da Escola da Ponte), “A saúde das palavras”, por Heloísa Dias e Natasha Gonçalves (Centro de Saúde Albufeira), “Círculos de inovação”, por António Quaresma (Rede Educação Séc. XXI) e ainda “Aprender na escola em sintonia com o ritmo da natureza” e “Ferramentas para a Participação Democrática nas Escolas”, pela ECOS – Cooperativa de Educação, Cooperação e Desenvolvimento).

 

“Não podemos pensar a escola a partir da escola”

 

Durante a tarde, foram fortemente aplaudidas as comunicações dos palestrantes. O primeiro orador foi David Justino, Presidente do Conselho Nacional de Educação, tendo afirmado que “não podemos pensar a escola a partir da escola, mas encaixar a escola na cultura onde está inserida”. O autor do livro “Fontismo, Liberalismo numa Sociedade Iliberal” defendeu que “a escola tem que preparar os alunos para que não se sintam inadaptados da sociedade”, embora ressalvando que “não existem sociedades intrinsecamente felizes”.

Um dos pontos altos foi a intervenção de Carlos Neto, catedrático da Faculdade de Motricidade Humana que pôs a plateia ao rubro quando afirmou que a “a escola tem que acabar com o egocentrismo” e que “o professor tem de deixar de ser o pilar da disciplina”. Este académico insistiu que “o medo” domina uns e outros e salientou ainda que a maior necessidade actual ao nível da educação é a “formação parental” e entende que “amar os filhos é dar-lhes autonomia”, sob pena “do excesso de protecção se tornar em terrorismo”. A par de apelar para que os pais não centrem excessivamente as atenções sobre a criança. Apresentando diversos estudos, Carlos Neto afirmou ser “urgente o combate à iliteracia motora” e que é necessário proporcionar mais actividades físicas para as crianças, dado que actualmente “70 por cento das crianças tem menos de uma hora de brincadeira por dia e 69% têm défices de competências sociais”. Por outro lado, o tempo que as crianças passam frente a meios tecnológicos cifra-se nas duas horas e meia. Defendendo que as crianças deverão brincar mais umas com as outras ao ar livre não pode ser condicionado pelo medo: “brincar e ser o outro implica correr riscos; o risco é o motor simbólico do ‘eu’”, referiu, acrescentando que “as crianças têm memórias navegáveis e os adultos, memórias estáveis”, pelo que só se poderá educar para a imaginação e criatividade através da confiança e da cedência de autonomia às crianças.

Carlos Neto falava no âmbito de uma mesa redonda subordinada ao tema “A escola, um novo sentir”, que juntou também Rosa Madeira, da Universidade de Aveiro, sob a moderação de Teresa Vitorino, da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve. Esta docente foi peremptória ao afirmar que “a escola tem que ter um novo sentir que faça pressentir e consentir a transformação do mundo com e entre as crianças”.

No final, o Vice-presidente do Município e vereador da Educação de Albufeira, José Carlos Martins Rolo, manifestou o seu agrado pela qualidade das intervenções e reiterou que “é urgente repensar em novos paradigmas para a Educação, o que não invalida que o seja a aplicação constante da novidade”. Salientou ainda que “este Encontro salda-se por um conjunto de ideias, projectos e partilha de conhecimentos que serão mote para futura reflexão”.

Este encontro terminou com uma boa prática de ensino, ou seja, a artística, com dois alunos do Prof. Gonçalo Pescada, do Conservatório de Albufeira a interpretarem ao acordeão alguns temas musicais contemporâneos. Os dois dias de reflexão ficaram expressos ainda num painel de Luísa Costa, artista que ao longo do encontro registou os fluxos de informação que foi percepcionando. O final, disse, reflecte “o caos que a própria área educacional vive actualmente”.

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Data de Publicação: 

2017/03/10